Resenha - O Conto da Aia - Margaret Atwood

O Conto da Aia foi considerado por muitos uma leitura essencial. A série baseada no livro de Margaret Atwood,  The Handmaid's Tale,  conquistou pessoas pelo mundo inteiro.  Em meio ao sucesso da obra, e ao lançamento de Os Testamentos, decidi ler e resenhar O Conto da Aia. Provavelmente,  o que você lerá a seguir é a resenha mais difícil que já escrevi. 

 Título: O Conto da Aia

Autora: Margaret Atwood 

Editora: Rocco

Páginas: 368

Se você reparou bem na imagem de capa da resenha, viu que no fundo da fotografia há um ipê amarelo. Fiz essa imagem no dia 24 de agosto, ou seja, quase quatro meses atrás. Na época eu já estava planejando essa publicação. 

Ler o Conto da Aia foi desafiador. A escrita de Margaret Atwood é densa e difícil de compreender. É como ler um clássico machadiano: você sabe que é importante, mas o texto é tão complexo e enigmático que o cansaço te faz pensar em desistir. Na verdade, eu desisti algumas vezes, mesmo que por poucos minutos. 

Não foi possível ler O Conto da Aia por prazer, muito menos para descansar. Sabe a razão? O Conto da Aia foi escrito para incomodar, alertar e lutar. 

Imagine-se em uma sociedade na qual as mulheres são apenas objetos. Uma sociedade na qual nascer mulher é sinônimo de não ter direito algum, nem mesmo sobre seu próprio corpo. Imagine-se presenciando constantes abusos sexuais, sabendo que não pode fazer nada. Angustiante, não?! Essa é realidade de O Conto da Aia e, infelizmente, pode ser (já é?) a realidade de muitas mulheres pelo mundo. 

                                  "Acidentes não existem. Tudo acontece intencionalmente.”

Sinopse: 

Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.

O livro é narrado em primeira pessoa por uma Aia. Simples assim. Narrado por apenas mais uma Aia. Uma mulher que já não tem mais o nome de antes, que foi obrigada a deixar sua casa e sua família para conceber o filho de seu Comandante. Após "A Revolução", ela foi "programada" para não questionar o sistema, ser submissa e ter como único objetivo gerar um filho saudável para o homem que a possui. No romance de Margaret Atwood, as mulheres são objetos (escravas?) que devem ter donos.

Foi muito difícil ler O Conto da Aia. Confesso que parei inúmeras vezes, engoli o choro ao acompanhar o desespero da narradora e fui incapaz de conter as lágrimas em muitos momentos. Sofri durante a leitura e tenho certeza que foi pouco perto das resenhas que li e assisti, nas quais mulheres que leram O Conto da Aia manifestaram seu medo. Somente uma mulher sabe como é ter medo de ser agredida/abusada/morta pelo simples fato de  ter nascido mulher.  Todos os dias nos deparamos com dados que ressaltam os altos índices de feminicídio, violência doméstica e abuso sexual. Acompanhamos ao mesmo tempo uma onda fundamentalista tomar conta do Brasil, uma onda de maioria masculina que quer decidir o que pode ou não ser feito com o corpo feminino. 

Homens, leiam O Conto da Aia. Mulheres, leiam o conto da Aia. Eu disse que demorei meses para ler e resenhar. Talvez, consigam fazer o mesmo sem tanta dificuldade. 

Termino a resenha de hoje deixando a seguinte reflexão: estamos realmente longe do cenário retratado em O Conto da Aia?