19 de out. de 2019

[UNICAMP] Resenha - Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus

Um Brasil em que fome. Um Brasil no qual a educação não chega para todos. Um Brasil de políticos enganam o povo. Um Brasil onde o pobre não tem vez. Quarto de Despejo foi escrito na década 1950 e, infelizmente, ainda hoje retrata fielmente o cotidiano das favelas e de grande parte do Brasil.
Título: Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada

Autora: Carolina Maria de Jesus 
Editora: Ática
Páginas: 199


"Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha."

Quarto de Despejo é, como o próprio título diz, o diário de uma favelada. Carolina Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais e se mudou para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Solteira e mãe de três filhos, Carolina catava papel para conseguir colocar comida na mesa e escrevia em seus cadernos todos os desafios que enfrentava. 

Carolina foi moradora da favela do Canindé, a primeira favela de São Paulo. Nesse contexto, são frequentes os relatos de fome, miséria, agressões e conflitos sociais, o que torna o livro repetitivo e gera certo desconforto no leitor. A autora narra constantemente a sua indisposição para trabalhar devido às más condições de vida, e também relata momentos em que deixou de comer para dar aos filhos o alimento que, na maioria das vezes, não passava de uma sopa de ossos que não poderiam servir de alimento a nenhum ser humano. A miséria reina em Quarto de Despejo. 



"Hoje não temos nada para comer.Queria convidar os filhos para suicidar-nos. Desisti. Olhei meus filhos e fiquei com dó. Eles estão cheios de vida."

Apesar da narrativa pesada que me fez pensar em desistir de concluir a obra inúmeras vezes, foi possível aprender muito o diário de Carolina Maria de Jesus. Listei alguns aspectos importantes de Quarto de Despejo: 

O poder do voto

Entre falsas promessas, compra de votos e escândalos políticos, ao longo de seu diário, Carolina deixou explicita a sua crença no poder do voto. O ato que para muitos representa apenas uma obrigação, para ela, era uma arma poderosa com a qual poderia transformar a cruel realidade a qual estava submetida. 

"O povo está dizendo que Dr. Adhemar elevou as passagens para vingar do povo porque lhe preteriram nas urnas."

Literatura que transforma 

Quem encontra nos livros refugio tem sua vida transformada. Com a autora de Quarto de Despejo não foi diferente, graças ao conhecimento adquirido por meio de páginas de livros, Carolina foi capaz de questionar as condições da sociedade e lutar para que a realidade dos pobres mudasse. 

" - A senhora quer escrever muitos livros?
- Oh, se quero!
- Mas a senhora não tem quem te dê nada. Precisa trabalhar.
- Eu preciso trabalhar e escrevo nas horas vagas."

Uma mulher à frente de seu tempo


Carolina não aceitou apanhar de nenhum homem em troca de sustento. Mesmo sendo criticada por muitos, criou seus filhos sozinha e fez o que pode com seu próprio suor. 

"A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tabuas do barracão eu e meus filhos dormimos socegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas. Não casei e não estou descontente."

O quarto de despejo 

" Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.” 

A edição de 2018 publicada pela Editora Ática respeitou os "erros" gramaticais de Carolina, preservando a essência da obra. O livro foi impresso em papel amarelado, o que facilita a leitura, e traz ilustrações  que representam muito bem a dor e a luta de Carolina. 

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Até a próxima!

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